Parte Cinco:

O Novo Homem. O que há com ele?

 

YJ: Minha esposa está no último semestre da faculdade e estávamos comentando que ela está sem emprego há cinco anos, o que volta ao assunto das expectativas de papéis dos sexos, em que normalmente se cai. Nós dois saímos de nossos empregos há quase cinco anos e nos mudamos para o México por uns seis meses, e terminamos em Denver, onde compramos uma casa. E comecei a comercializar imóveis e ela começou a consertar a casa. Então, quando chegamos lá, foi algo assim "Bem, temos de arrumar dinheiro, vou vender imóveis". E daí fiz exatamente isso.

CS: E você se deu bem?

YJ: Sim, sim. Funcionava bem para mim. Mas eu tive de mudar toda a minha imagem, comprei um monte de ternos e gravatas bacanas, e cortei o cabelo bem curto.

CS: Não acredito. Você tem de ter fotos.

YJ: Ah, sim, tenho um monte de fotos. Quero dizer, para mim, eu me encarava como um provedor em algum lugar em meu subsconsciente, e farei qualquer alteração em minha imagem ou meio de vida que seja necessária para fazer com que isso aconteça.

CS: Isso AINDA é a quintessência de ser homem.

YJ: Sim.

ML: Pois é.

LS: Exatamente.

CS: Quando a coisa aperta.

YJ: E daí, voltamos aqui e, novamente, estávamos pensando em iniciar um negócio naquela época, e quase o fizemos. Mas, de novo, fui procurar e encontrei um emprego, e então decidi "Bem, por que VOCÊ não volta para a faculdade, Sienna?" e eu volto depois. Mas, novamente, volta a ser o aspecto de eu ser homem e ter estas determinadas experiências e poder conseguir um emprego melhor e, não sei, foi mais fácil para mim como homem conseguir um emprego melhor.

CS: Isso ainda acontece.

YJ: Então, a sociedade ainda provoca você nessas expectativas de papéis dos sexos. Agora ela está em uma situação bastante estranha, em que provavelmente vai procurar e encontrar um emprego e perceber que cinco anos sem um emprego é algo muito, muito estranho.

CS: Porque ainda presumimos ou esperamos que, embora os papéis e a totalidade dos papéis diminuam, os homens ainda são os provedores, mesmo que seja um tiquinho só a mais que a mulher. Minha esposa ganha mais que eu mas, mesmo assim, eu acho que a expectativa ainda está lá. Que os homens ainda ganham mais que as mulheres. E, até que essa expectativa mude, SE acaso mudar, ainda será o homem nesse papel — PORQUE a sociedade ainda quer que os homens sejam os provedores, eles pagam mais aos homens do que às mulheres, e isso para sempre vai deixar as mulheres irritadas, até que parem de pensar que os homens não têm de ser os únicos provedores, mas sim que têm de ter o papel de provedores.

YJ: Mas os homens também precisam abdicar desse sentimento. Uma das coisas que venho tentando dizer é que isso está internalizado em mim, no sentido de que sou um participante voluntário na coisa toda.

CS: E nesta época, são necessários dois.

ML: O que eu acredito que, nesta época, é complacente e também condescendente de modo especial com as mulheres como um todo, por razões inerentes e também óbvias. Acho que é fascinante que você tenha colocado na mesa todo o conceito de abdicação, porque eu diria que uma das melhores, mais fortes e poderosas que já conheci, Treva, cujo sobrenome é King. Ela trabalhava com a esposa do Cason e, quando a conheci, pensei "Uau, esta é uma das mulheres mais fortes e poderosas que já conheci".

E ela estava trabalhando no mesmo lugar que Julia, creio, por diferentes razões. Basicamente, ela estava em um emprego sem futuro e, inúmeras vezes, eu tentei extrair dela o que ela desejava fazer, e eu estava sempre muito sensível ao fato de que ela realmente não sabia como aplicar seus pontos fortes ou seu poder, ainda que isso fosse evidente nela, e eu estava completamente desapontado, e acho que nesta época em que vivemos agora, as mulheres têm a chance, têm a oportunidade de ser muito mais do que suas mães foram. Muita coisa mudou em uma única geração, embora elas realmente não tivessem algum tipo de figura da mãe de onde extrair estratégias. Pelo menos a maioria delas, não. Elas querem fazer, podem fazer, mas realmente não tiveram uma pista sobre como ir buscar isso, na verdade. Então, elas estão colocando as coisas para funcionar.

CS: Porque as expectativas ainda existem. Não necessariamente a rigidez de qual é o papel de uma mulher no universo, mas as funções que são preferíveis que uma mulher assuma, em vez das que são preferíveis que o homem assuma. E é possível para cada um assumir qualquer dos papéis. É possível para um homem ser um "dono de casa" e é possível para a mulher ser a provedora única. Mas, pelas escolhas de cada um, as expectativas permanecem — na propensão oculta de todo o desejo de ser sensível demais e do desejo de ser submisso, no sentido de permitir a possibilidade de seja lá o que for que você quiser fazer, que ainda a propensão oculta é esperada: que o homem seja o provedor. Mesmo em seu sentido mais fraco, a propensão ainda persiste. Que é esperado que a mulher seja a educadora, em qualquer sentido.

Então, os homens estão guerreando com isso e as mulheres estão guerreando com os relatos de conflitos entre a sociedade ou as feministas ou seus pais ou seja quem for, os desejos conflitantes da expectativa de carreira ou avanço em um determinado domínio ou em algum tipo de função que não sejam as funções tradicionais femininas. E então o desejo concorrente e mutuamente exclusivo de ser mãe e o que significa ser provedora de cuidados e educadora feminina que entra em conflito direto com a expectativa de carreira.

Sei que a Julia luta contra isso diariamente. Ela é a última de oito filhos. Ela definitivamente é uma das mais brilhantes na família. Esperava-se que a Julia — ela teve aulas na AP, fez de tudo, uma mulher muito inteligente — esperava-se que ela entrasse em algum campo profissional para cultivar ainda mais seus dons intelectuais. Esperava-se que ela fosse à luta e se tornasse a pessoa em uma carreira sólida. Ela DETESTA trabalhar em escritório. Absolutamente abomina. Ela adora trabalhar com pessoas. O que ela deseja acima de tudo é ser uma mãe "do lar" e o conflito com a Julia é que ela realmente deseja ser uma mãe "do lar", mas os outros passarão a menosprezá-la, ela acha, e que aqui temos essa mulher brilhante, muito capacitada para meios impressionantes de fazer qualquer coisa que quiser, e mesmo assim prefere ser este tipo de desprezível mãe "do lar".

LS: De maneira que as pressões sociais das mulheres redefiniram o papel delas, de modo que elas se sentem embaraçadas pelas conquistas que desejam atingir.

CS: Exatamente isso.

LS: A sociedade disse que esta é uma conquista de segunda, talvez até de terceira importância.

CS: Porque esse papel é encarado como uma função de "Este é o papel que foi atribuído a você. Portanto, o que você tem a fazer é crescer a partir desse papel porque você tem possibilidade de crescer a partir desse papel."

LS: Deixe-me fazer um tipo de pergunta muito suja, curta e grossa: Então, será que estamos deixando as mulheres determinarem quais são os nossos papéis e quais os delas? Quero dizer, estou ouvindo vocês dizerem que as mulheres, outras mulheres, estão determinando qual é o papel da Julia, e se ela não se sente à vontade porque outras mulheres dizem "Esse é um papel aceitável—"

CS: —elas certamente estão determinando o que é o conflito.

LS: Temos mulheres que nos dizem "Você não é sensível o suficiente, ou seu tempo não é dividido adequadamente ou essas coisas estão sempre acontecendo porque você não é um homem bom, se é que é homem, porque você não tem as qualidades femininas que desejamos que você tenha." Isso, obviamente, Julia ouviu de outras mulheres—

CS: Mas eu acho que esta é a origem do conflito, não necessariamente a origem das ações dela. Eu acho que o que é possível é que temos sido forçados, de algumas formas, a ficarmos cientes e, portanto, a nos sentirmos um tanto envergonhados pela maneira como temos interagido. E o que aconteceu é que nós meio que deixamos passar o fato de chegarmos ao ponto em que dizemos "Certo, não sou consciente, sou um homem idiota, não sou consciente da maneira como interajo com outras pessoas, outros homens, outras mulheres, e portanto o que faço é errado, seja o que for que você diga é uma simples questão de sua percepção intuitiva como mulher, e eu simplesmente não pego o espírito. ENTÃO, estou errado, não importa o que seja. É como Tim Allen disse, não importa o que você faça quando acorda de manhã, vire-se para sua esposa e diga "Me desculpe" e ela saberá o que você quer dizer.

Mas, por simplesmente sermos incapazes de redefinir o que é ser um homem, de alguma determinada maneira que seja mutuamente desejável ou inovadora, nós perdemos a habilidade de definir ou, de outras formas, intuir quem somos. Nós simplesmente abdicamos isso em favor do que uma mulher diz que somos ou não. E está simplesmente no desejo de se tornar sensível à maneira como estamos nos relacionando, no sentido de que sempre fomos insensíveis antes. Dizer "Realmente, eu já não sei mais como estar com você, porque percebi que os homens em geral sempre foram cabeças de bagre no passado. Eu entendo. Certo, tudo bem. Mas não sei mais como estar com você, e por isso estou deixando que você defina, talvez, como é que deveria ser.

YJ: Face ao que você está dizendo sobre a Julia, isso me faz pensar que as mulheres estão no mesmo tipo de situação—

CS: Exatamente isso.

YJ: Tem uma psicóloga absolutamente fabulosa, Helen Luke, que combina intelecto com sabedoria dos anos, ela tem, acho, 90 anos—

ML: —e ainda é de vanguarda—

YJ: —e ela diz que tem esta força na sociedade que parece estar tentando forçar todos ao que ela chama de esta horrível mesmice, e que, na verdade, na opinião dela, todos, por outro lado, estão se rebelando contra esta horrível mesmice. O que ela diz que tem igualmente valor entre os sexos é uma eterna verdade, e que outros tipos de igualdade realmente não são tão importantes se você se concentrar na igualdade de valor, esta é a verdade eterna que estamos procurando. E os problemas surgem quando nós estamos olhando — existem pessoas agora que, quando o filho nasce, a mulher não o amamenta porque isso seria injusto com o homem, certo?

CS: Como é que é?

LS: Opa, isso é novidade.

ML: Se eu pudesse, eu amamentaria.

YJ: Eu soube de um pessoal de Denver, a mulher bombeava o leite dela, para que ambos pudessem dar à criança o leite dele, com mamadeira. Quero dizer, isto é absurdo. Me desculpe. Mas fico feliz em admitir que quando eu via a Sienna amamentando o Marcel, tinha uma sensação de inveja, em um certo nível. Mas, assim que comecei dar mamadeira para o Marcel, quando ele já era bem maior, isso ainda não me dava a sensação de intimidade que eu conseguia ver que o Marcel e a Sienna tinham tido na amamentação verdadeira, que nós nunca conseguiremos. E é absurdo tentar. Eu sinto isso, intensamente, com a Sienna, que ela realmente deseja que eu seja um homem.

CS: O que você quer dizer com ela deseja que você seja um homem? O que isso significa para ela, o que significa para você?

YJ: Eu concordo que isso é bastante indefinível, mas nós somos muito semelhantes e eu acho que qualquer um que nos conheça como amigo concordaria que nós somos mesmo bastante semelhantes.

CS: Mas, mesmo assim, trocar as lâmpadas do farol do carro é essa coisa "masculina".

LS: Os homens chineses não têm nenhum tipo de problema em termos de feminino/masculino. Estive na China diversas vezes. Os homens chineses compreendem com clareza que é um desafio entre homens e mulheres e, se os homens não estiverem no controle disso — os homens compreendem que é uma vantagem para eles controlar o comércio, controlar os negócios, controlar a estrutura...

ML: O mundo externo.

LS: É, e é uma vantagem para eles subjugar a mulher. Eles não têm problemas quanto a isso.

CS: Lógico, eles estão 50 anos atrasados, essencialmente.

LS: Ou estão 3.000 anos à frente, seja qual for a forma como você queira encarar isso.

ML: É muito interessante que você tenha dito isso, porque eu ouvi, há alguns anos, que não é incomum na China vermos homens mais idosos segurando a mão do outro enquanto andam pela rua.

CS: Isso acontece em Bali.

LS: Na China também, quando as mulheres seguram-se as mãos, não se trata de nada sexual. Nem tem qualquer conotação de sexo. É uma expressão de amizade, mas amizade que não é maior que o nível o que estamos tendo hoje, aqui.

ML: Estreitamento de laços humanos de um modo não-sexual.

LS: No entanto, eles têm um verdadeiro medo de tocar sua pele. Quando eu estive lá, acabei me sentindo como um ídolo do rock. As pessoas fazem fila para ver você à medida que você se sobressai da zona invisível, e você diz "Oi. Como vai?" e a maioria está aprendendo a falar inglês, e eu dizia "Que bebê lindo!" e colocava a mão no bebê, e eles imediatamente esticavam o braço para tocar sua pele. Eles querem sentir como é o toque, porque eles não têm pêlos no corpo. Isso parece realmente diferente. "O que é isto?" E homens de mais idade andando e segurando-se as mãos não é diferente. É como o Cason e eu andando abraçados, com meu braço em volta dele e o dele em volta de mim. O nosso é um laço muito mais estreito.

YJ: Quando estamos falando desta forma extrema de sociedade patriarcal—

LS: Ah, sim, eles são exacerbados!

YJ: Quando a Sienna e eu estivemos no México, o que sempre me intrigava é que é quase por causa desta cultura "machão" que havia áreas onde os homens pareciam muito livres para ser femininos, de certa forma. Quer dizer, eu percebi que, em geral, o homem mexicano era muito mais amável com seus bebês e filhos. Carregando-os o tempo todo, sendo realmente muito afeiçoado com seus filhos, mais do que eu senti aqui nos Estados Unidos.

LS: Eu fazia isso com meus filhos o tempo todo.

CS: Mas como eles se relacionavam com as mulheres?

YJ: Daquele jeito machão estereotipado.

LS: Mas, como você se sente pelo fato de segurar o Marcel?

YJ: Bem, quer dizer, eu não estou nem aí, mas...

CS: VOCÊ ACHA que isso é uma coisa típica?

YJ: Não, eu acho que sou meio atípico.

LS: Meu pai não tinha essa proximidade. No fim, eu disse para meu pai "Olha, eu amo muito você e quero que você entenda que vou beijar você. Quando você vier me visitar, não fique surpreso, não fique aborrecido, não se sinta embaraçado, não sinta nada além do fato de que eu amo você, mas vou cumprimentar você com um beijo, vou cumprimentar você com um abraço." E isso passou do abraço para o beijo, e do beijo para um beijo nos lábios. Para Cason e eu, nunca deixou de ser um beijo nos lábios, porque eu queria que fosse assim e ele se sentia à vontade fazendo isso.

YJ: Pois é, e eu faço isso com o Marcel o tempo todo.

LS: E eu tenho um outro filho que começou agora a se aquecer. A única forma de dizer oi para ele, a forma mais expressiva como se podia dizer oi para ele era um abraço. Um abraço rápido. O outro filho é um abraço forte, um beijo no rosto, ele beija você no rosto, você o beija também, "Oi, como vai?" O enteado, exatamente a mesma coisa, abraço beijo. A filha? Talvez um abraço muito rápido. É com isso que se sentem à vontade. Comigo, é algo familiar. Sem qualquer problema.

YJ: Para mim, um dos momentos favoritos com meu pai é quando eu acabo de chegar em casa e quando saio, porque o hábito dos suíço-franceses é beijar-se três vezes no rosto, e isso sempre é um momento caloroso com meu pai, e eu gosto muito disso, que tenhamos algum contato físico nesse momento. É como quando estamos o mais próximo possível fisicamente e em outras vezes podemos estar mais próximos intelectualmente, conversando sobre algum assunto.

LS: Mas você às vezes se sente mais caloroso que isso?

YJ: Não.

LS: Não, eu também não.

ML: Desde sempre, meu pai e eu nos beijamos nos lábios, desde que me lembro, e me lembro que, quando eu estava no colégio, de alguma forma veio à baila que eu beijava meu pai nos lábios quando nos despedíamos à noite, e me lembro de terem zombado de mim por isso, e me recordo de ter pensado "Por que isso é errado? Por que não é uma coisa legal de se fazer?"

FIM